Estufas de bambu para morangos

     A estação de permacultura Jaguatirica, em parceria com a estação Cruvatã, ambas em São João do Triunfo no Paraná, estão atuando em parceria para produção agrícola. Trata-se de um planejamento em conjunto para o plantio de morangos. Após viagens ao Chile e ao Rio Grande do Sul para prospectar informações, acabamos adaptando algumas técnicas construtivas e de produção, aos materiais e ferramentas que tínhamos disponíveis em ambas as estações. Confira!

Perspectiva da etufa

     Definidas as medidas do projeto, resolvemos estruturar as estufas em eucalipto e nas coberturas optamos por colocar varas de bambu, ambos materiais disponíveis nas estações permaculturais. Antes de iniciar o trabalho com o bambu, é importante conhecer e saber manejar corretamente as espécies de bambu que temos disponíveis. Na imagem abaixo, podemos identificar as varas jovens, pela presença de sílica (pó branco) que fica concentrada atrás das bainhas (folhas que protegem a gema). As varas mais antigas podem ser facilmente reconhecidas pela presença de fungos, manchas e líquens. 

Varas jovens e antigas na moita de Bambusa Tuldoides.

     Para mantermos as nossas moitas saudáveis, foi importante retirarmos apenas as varas antigas, isto evitará a contaminação por fungos nas varas jovens e evitará a retirada de varas fracas e macias. As varas jovens, possuem alta concentração de amido, açúcares, água e possuem as paredes pouco espessas. Outra informação que devemos saber também, é que as varas de bambu não engrossam para fora, mas sim para dentro, ou seja, a parte oca da vara, vai ficando cada vez mais estreita conforme a vara vai envelhecendo. Isto significa, que os brotos jovens já sobem do chão, com seus diâmetros finais definidos (como uma antena comum de rádio).

     Para fazer o manejo do bambu dentro da mata, recomendamos sempre o uso de roupas longas para evitar arranhões e picadas de insetos, além do uso de EPI (luvas de couro e botas de cano alto) e indicamos também o uso de ferramentas apropriadas, como as que estão abaixo. 

Serra de poda, facão e trena métrica

     Com estes detalhes em mente, e escolhidas as varas que serão cortadas, devemos definir o ponto do corte na vara. Esta escolha, deve ser feita de forma a evitar o acúmulo de água nas partes remanescentes. Por isto, recomendamos que o corte seja feito imediatamente acima de um nó conforme pode ser visto na imagem abaixo.

Corte cima do 1° nó

     Observem que após o corte efetuado, o resultado não deve ser semelhante a um copo de boca para cima, mas sim semelhante a um copo de boca para baixo. Na imagem a seguir isto pode ser visto, além de algumas pintinhas que são os vasos condutores de seiva na vara de bambu.

Vara recém cortada
     
     Após retiradas as varas, elas devem ser padronizadas para transporte e montagem da estufa. Neste caso optamos por cortar as varas e retirar os ramos laterais em uma área distante da moita, que ficava dentro da floresta e em lugar de difícil acesso. 

 Varas já sem ramos laterais

Padronizando o tamanho para transporte

Varas carregadas para transporte

    Após transportadas, foi iniciada a montagem das estufas e das bancadas dos morangos. Sim, atécnica de produção que optamos, será coberta para evitar molhar diretamente as folhas dos morangos e terá produção elevada do chão para garantir a ergonomia dos trabalhadores, evitando dores nas costas que podem prejudicar a saúde e o rendimento dos colhedores dos morangos.
     Estas bancadas, possuem a base em eucalipto, mas as estruturas que suportarão os "slabs" (sacos com substrato onde serão plantadas as mudas) dos morangos serão feitas em varas de bambu amarradas com velhas câmaras de ar de pneus, material facilmente encontrado nos descartes das borracharias.

Bancadas feitas com varas de bambu

     Após estruturadas as estufas, iniciamos o processo de preparo de composto para preencher os "slabs" e para a mistura ficar homogênea, utilizamos um misturador de tambores, que facilitou muito o trabalho, evitando desgaste físico e economizando tempo de mistura na enxada. Veja na imagem abaixo o misturador que utilizamos.

Carrinho com húmus e mistura com terra preta

     Conforme os "slabs" eram preenchidos, já eram imediatamente colocados sobre as bancadas de bambu que estavam prontas, evitando-se assim contratempos no cronograma de execução. Nas imagens abaixo podemos ver os suportes dos "slabs", feitos em bambu e amarrados com câmara de ar de pneus.

Detalhe da amarração (Vista superior)

Detalhe da amarração (vista inferior)

     Após estruturadas as estufas, preenchidos os "slabs", o passo final era buscar as mudas de morango. Após a chegada das mudas, as mesmas foram preparadas para plantio, ou seja, foram retiradas folhas velhas e as raízes foram cortadas em tamanho padronizado.

Mudas prontas para plantio

 Mudas plantadas nos slabs

Vista interna de uma das estufas

     É isso aí pessoal, agora há mais trabalho pela frente, cuidar das mudas para evitar o ataque de pragas e iniciar a colheita após a florada das mudas. Espero que tenham curtido a postagem!

Entre as águas os bambus e as jussaras

Há aproximadamente dez anos atrás, o então apenas Sítio Jaguatirica iniciou seu trabalho de reflorestamento, tendo em vista que até ali, suas atividades anteriores eram de cultivo de lavoura. Uma grande parte de área de lavoura, foi deixada em pousio, enquanto o sítio foi inscrito em um programa do estado do Paraná para recuperação de mata ciliar. 

É importante ressaltar que todas as araucárias haviam sido cortadas pelos proprietários anteriores, o que significava que o trabalho de reflorestamento a ser desenvolvido não seria nada fácil e demandaria dedicação constante se quiséssemos recuperar e estruturar a floresta ombrófila mista com suas árvores clímax. Enquanto o trabalho de plantio de mudas havia começado em pequena escala, inesperadamente e por força do destino, chegou ao sítio uma carreta com 5 mil mudas de espécies nativas do programa mata ciliar. Naquela época não imaginávamos que nos tornaríamos a Estação Jaguatirica de Permacultura e resolvemos plantar as mudas, trabalho que durou mais de três meses e se estende até hoje. Também iniciamos o plantio de pinhão em saquinhos, para que se tornassem mudas e posteriormente fossem para o meio da mata.

Ao mesmo tempo, iniciamos algumas experiências, como a de plantar também, mudas de palmeira jussara (da floresta ombrófila densa), bambus e outras espécies de interesse. O reflorestamento foi focado nas áreas de preservação permanente e encostas mais degradadas. 

Dendrocalamus Asper - 1° Broto

Durante esta empreitada, resolvemos plantar muitas mudas ao redor de um antigo afloramento freático. Hoje, este afloramento possui em seu redor, diversas árvores nativas da floresta de araucária, tendo algumas delas mais de 6 metros de altura. Inacreditavelmente o afloramento está dando sinais de querer virar um curso de água permanente. Seguiremos observando-o durante o período de estiagem pois agora durante as chuvas, ele transbordou e umedeceu  a superfície que o cerca, com sua água timidamente escorrendo para a parte baixa do terreno.

Muda de Jussara plantada há 6 anos pelo amigo Pinho

As araucárias já demonstram possuir 10 andares de ramificação de galhada, e, em meio à mata a fauna dá sinais de retomada de sua presença. No último final de semana encontramos trilhas de tatus e fotografamos um pica-pau de cabeça vermelha.

Muda de Phillostachys Nigra

Outra experiência que está sendo feita, é o investimento no plantio de diversas espécies de bambus. Acima vemos a foto de uma muda alastrante, com seu colmo negro, característica de baixo teor de amido. Abaixo podemos ver uma muda de Guádua Angustifolia, espécie entoucerante e de colmos de até 15cm de diâmetro.

Guádua Angustifolia

Hoje a Estação Jaguatirica de Permacultura conta com as seguintes espécies plantadas de Bambu: Dendrocalamus Asper, Guádua Chacoensis, Guádua Angustifolia, Bambusa Tuldoides, Bambusa Oldhami, Bambusa Multiplex, Philostachys Pubescens e Philostachys Nigra

Infelizmente ainda não temos mudas para a venda e nem fazemos comercialização de varas, trata-se apenas de um investimento para o futuro, afinal, o bambu é a madeira do futuro. O trabalho não para, e a todo momento ele continua. E você, já iniciou o seu?